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A grande corrupção

 

Tanto os petistas e seus acólitos falaram no diabo, que ele apareceu com todo vigor. Pelo simples fato de o juiz Sérgio Moro e vários dos procuradores de Curitiba, como o coordenador do grupo Dalton Dallagnol, terem estudado em universidades dos Estados Unidos, seus adversários espalharam que a Operação Lava Jato era guiada pela CIA, num plano diabólico para desestabilizar o Brasil, supostamente uma potência emergente que incomodaria o Grande Satã.

Até a prisão do Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, um dos nossos heróis na pesquisa nuclear por receber propinas de uma empreiteira, foi transformada numa ação do interesse dos nossos competidores internacionais, dispostos a impedir que o Brasil atingisse o pleno desenvolvimento nas pesquisas.  

Os fatos fartamente demonstram o envolvimento dos acusados, nos diversos desdobramentos da Operação Lava Jato, no que já está sendo considerado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos o maior caso de corrupção da História.

O acordo fechado pela Odebrecht e Brasken com as autoridades judiciárias de Brasil, Estados Unidos e Suiça revelou com detalhes quão profundas foram as atividades corruptas dessas empresas, que são a parte principal do grupo de empreiteiras que está sendo investigado.

O relatório do Departamento de Justiça revela detalhes de atos de corrupção, um deles digno de um filme B de gangster. O documento oficial não cita nomes, identifica os personagens nesse episódio como Brazilian Official 1 até 4, mas ressalta sempre que o nome verdadeiro é de conhecimento das autoridades americanas.

O site O Antagonista está antecipando as informações sobre o caso desde seu início e sente-se seguro em identificar os personagens, que seriam o ex-presidente Lula, a ex-presidente Dilma, o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-ministro Guido Mantega. Nesse episódio de 2009, Lula, o Brazilian Official 1, reuniu-se com um executivo da Odebrecht, que seria o próprio Emilio Odebrecht, que lhe pediu que conversasse com o ministro da Fazenda Guido Mantega, o Brazilian Official 4 para conceder algumas vantagens à Brasken.

Guido reuniu-se então com Alexandrino Alencar, identificado como “Braskem employee 1” e, num pedaço de papel que fez escorregar pela mesa até o interlocutor, escreveu a cifra de R$ 50 milhões, que era a propina que queria para a campanha da Brazilian Official 2, então candidata Dilma Roussef.

São coisas como essas que demonstram que as investigações que estão em curso, devido a um amplo acordo operacional do Ministério Público brasileiro com autoridades dos diversos países envolvidos pelo escândalo, são muito mais profundas e estão mais adiantadas do que sabemos.

Quando uma denúncia é feita, é porque já existem muitos passos à frente sendo dados pelos investigadores e a base documental é bastante sólida para ser demolida apenas pela retórica politizada. Todas as denúncias formam um quadro bastante amplo e documentado do que foi feito, e logo que o ministro Teori Zavascki liberar as delações dos executivos da Odebrecht, assim que forem sendo homologadas, teremos um retrato completo da situação.

Como a delação premiada da Odebrecht tem, naturalmente, os mesmos detalhes que a em que se baseou o acordo feito com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, os eventuais buracos deixados na versão americana serão preenchidos pela brasileira. O Departamento de Estado não nomeia os envolvidos, deixando que o sistema judiciário de cada país faça a sua parte.

Esse acordo atinge as ações corruptas da Odebrecht e da Brasken no Brasil e em mais uma dúzia de países, pois a empreiteira brasileira tem ações na Bolsa de Valores de Nova York e por isso ela está sob a legislação americana.

O acordo não livra, porém, a responsabilidade individual de cada envolvido nas negociações, e eles poderão ser processados diretamente pelo governo americano se receberam a propina através do sistema bancário americano, ou se tinham funções de comando nas empresas envolvidas nos atos corruptos.

A ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, por exemplo, poderão vir a ser processados por terem sido presidentes do Conselho da Petrobras, que também tem ações em Nova York. Mas dificilmente os Brazillian Officials de 1 a 4 – Lula, Dilma,Palocci e Mantega – serão processados pelas denúncias de corrupção nos Estados Unidos, a não ser que tenham se utilizado do sistema bancário americano para receber o dinheiro no exterior.  

O Globo, 23/12/2016