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Governar o Brasil não é difícil nem impossível: é inútil

 

Benito Mussolini terminou seus dias na face da Terra numa posição incômoda: pendurado de cabeça para baixo num gancho de açougue. Um fim de vida coerente com uma de suas frases mais famosas: "Governar a Itália não é difícil, é impossível". Menos trágicos, os presidentes do Brasil, mesmo sem o fim lastimável do ditador italiano, poderiam dizer: "governar o Brasil não é difícil nem impossível: é inútil".

Citando Suetônio poderíamos dizer que os 12 Césares tiveram as mesmas dificuldades dos presidentes dos dias de hoje. Um deles resolveu seus problemas e os problemas do Império Romano nomeando um cavalo para senador, que nada ficou devendo aos senadores que o sucederam.

Ernest Renan, no meu entender o maior estilista da língua francesa, considerou a linhagem dos Pios não só o melhor período do império como o período mais feliz da humanidade do seu tempo. Teve razões para isso, uma vez que seus antecessores e sucessores, segundo Cesare Cantù, não eram coisas que prestavam.

Falta ao Brasil um Suetônio e um Cantù, apesar de termos césares demais. Somente para ficar no ano da Graça de 2017, temos três ex-presidentes e estamos na iminência de termos mais um, além de outros que estão na fila.

Nenhum deles ficou pendurado num gancho de açougue, mas tivemos um suicida, um louco que renunciou, outro que foi exilado e dois que foram impedidos. Disso tudo resultou que o Brasil pode ter governantes em excesso, que prometerão pão e leite para todos, descobrirão a inutilidade do leite e do pão, mas farão licitações que abastecerão corruptos e corruptores.

Um ex-presidente que foi exilado dizia que governar era abrir estradas. A maioria preferiu abrir as burras da nação, tornando inúteis suas promessas e nomeando cavalos para os altos escalões. 

Folha de São Paulo (RJ), 18/06/2017