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Alianças internacionais

 

O governo Bolsonaro que ora se inicia tem proximidades ideológicas com dois movimentos internacionais que se unem em torno de idéias políticas de direita com pensamento liberal na economia.  

A emergência de uma direita politicamente forte no mundo, culminando em nossa região com a de Bolsonaro, leva a esquerda a perder força na América do Sul, com metade dos países sendo governados por partidos de direita, revertendo uma situação geopolítica.

Há cinco anos, dos 12 países da região, só três eram governados por partidos de centro ou à direita: o Chile, de Sebastián Piñera, o Paraguai, de Federico Franco, e a Colômbia, de Juan Manuel Santos. Hoje, metade da região tem governos de centro ou centro-direita, dominando a vasta maioria da população e do PIB da região.

 Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump e ideólogo de uma direita internacional, projeta  um grupo para reunir os partidos de direita ou extrema direita  da Europa em torno de discussões políticas comuns. Eduardo Bolsonaro, eleito o deputado federal mais votado da história do país,  pretende ser o líder intelectual da direita na região, e está em sintonia com Bannon.

Na América Latina, a Fundação Índigo, ligada ao PSL, fez recentemente uma reunião em Foz do Iguaçu com diversos representantes de partidos de direita ou centro-direita que pretende ser um contraponto ao Foro de São Paulo, que reúne a esquerda de vários países, criado em parceria entre Lula e Fidel Castro, e chegou a eleger a maioria dos presidentes de países vizinhos.

Ao mesmo tempo, a adesão do novo governo brasileiro a uma política externa alinhada aos Estados Unidos leva a uma maior aproximação com Israel. A anunciada decisão de transferir a embaixada brasileira para Jerusalém, acompanhando a decisão de Trump, tem a ver com o apoio que evangélicos fundamentalistas lá e cá dão aos governos Trump e Bolsonaro.

O pastor Silas Malafaia chegou a afirmar que os evangélicos apoiaram Bolsonaro, sobretudo porque ele se comprometeu com o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, o que foi reafirmado por Bolsonaro ao próprio primeiro-ministro de Israel Benjamim Netanyahu, que permaneceu no Brasil por cinco dias. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, muito ligado a Netanyahu, foi das autoridades presentes à posse de Bolsonaro.

A luta contra a elite globalista abarca desde a posição de Trump contra a ONU e demais organismos internacionais, a movimentação na Inglaterra para o Brexit, assim como os ataques do presidente da Turquia Recep Erdogan e do próprio Orban contra a União Européia.

A emergência política da direita no mundo está merecendo análises em diversos centros de estudos, e um dos especialistas na área, o professor Jonathan Weiler, da Universidade da Caroline do Norte em Chapel Hill, vê paralelos entre a vitória de Bolsonaro e a ascensão de líderes populistas de direita que defendem as virtudes do nacionalismo e os perigos do globalismo, entre outras causas não diretamente ligadas aos problemas brasileiros, como o controle da imigração.

Governos autoritários de direita surgem em países tão diversos quanto a Dinamarca, Áustria, Hungria, Polônia, Guatemala, e Peru. O que todos esses líderes têm em comum, diz Weiller, é a habilidade de convencer muitas pessoas de que o mundo é um lugar perigoso, e que eles são os únicos que podem protegê-las.

O apelo à lei e à ordem, e o nacionalismo, são traços comuns a eles. Weiler divide os cidadãos em três campos de temperamento: os fixos, que têm medo de mudanças; os fluidos, mais abertos a elas, e os mistos, ambivalentes. É nesse ambiente que trabalham os líderes políticos.

O professor da Universidade de Carolina do Norte diz que classificar esses políticos simplesmente de autoritários reduz a questão a fenômeno marginal, quando o comportamento em relação a raça e imigração é central na formação da opinião pública dos países.

Aqui no Brasil, poderíamos fazer uma relação com os valores morais, enfrentamento da violência ou questões de gênero. E com a adesão do novo chanceler brasileiro, Ernesto Araujo, ao movimento antiglobalista.

 Quando as pessoas consideram que o caos está tomando conta da sociedade e as ameaças são onipresentes, pondera o professor Jonathan Weiler, tendem a fazer vista grossa ao autoritarismo no interesse de impor mais ordem. Sem levar em conta que a democracia é intrinsecamente conturbada.

 

O Globo, 05/01/2019