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Alfredo Pujol

 

MACHADO DE ASSIS, SUA NOVA ESTÉTICA:

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

Com as Memórias póstumas de Brás Cubas, inicia-se a segunda fase da evolução literária de Machado de Assis, que opulentou o nosso patrimônio de arte com uma fulgurante galeria de obras-primas.

O último livro da sua primeira fase, Iaiá Garcia, embora ainda envolto nas névoas do romantismo, pode-se considerar o documento flagrante da sua transição. Como bem ponderou o eminente crítico José Veríssimo, a misantropia de Machado de Assis já se reflete em algumas páginas sombrias daquele romance, realçada por um raro sentimento de bom gosto, tato e distinção, e revelada por alguns conceitos finos e penetrantes, em que se resume às vezes uma situação d’alma ou um caráter, embora o abuso da metáfora escureça aqui e ali a originalidade e o imprevisto do pensamento.

Era então o período decisivo, em que o escritor procurava a fórmula em que modelasse os seus ideais, criando a sua personalidade artística. “Dois fatores novos atuavam-lhe no espírito”, observa Mário de Alencar: “o aparecimento, ou agravação, do mal físico incurável e o êxito do naturalismo de Zola e seus discípulos; o mal físico toldou de pessimismos a sua visão da natureza; o naturalismo influiu, por feito de reação, sobre o seu processo estético.”

O influxo do naturalismo manifestou-se em Machado de Assis exclusivamente na sua feição exterior, ou melhor, no processo de observação e de expressão. A escola realista, com os seus excessos e as suas torpezas, repugnava à sensibilidade do autor de Quincas Borba. Zola irritava-o com a sua obscenidade e com o aviltamento e a baixeza dos seus personagens.

Quando apareceram os primeiros romances realistas na língua portuguesa, O crime do Padre Amaro e O primo Basílio, de Eça de Queirós, Machado de Assis revoltou-se contra aquele realismo “sem rebuço, sem atenuações, sem melindres”, “reprodução fotográfica e servil das coisas mínimas e ignóbeis.”

“Pela primeira vez”, escreveu ele a propósito d’O crime do Padre Amaro, “aparecia um livro em que o escuso e o torpe eram tratados com um carinho minucioso e relacionados com uma exação de inventário.” Machado de Assis aceitava em termos o processo do naturalismo; o que detestava era a excessiva grosseria da escola: “O Sr. Eça de Queirós não quer ser realista mitigado, mas intenso e completo; e daí vem que o tom carregado das tintas, que nos assusta, para ele é simplesmente o tom próprio. Dado, porém, que a doutrina do Sr. Eça de Queirós fosse verdadeira, ainda assim cumpria não acumular tanto as cores, nem acentuar tanto as linhas; e quem o diz é o próprio chefe da escola, de quem li, há pouco, e não sem pasmo, que o perigo do movimento realista é haver quem suponha que o traço grosso é o traço exato.” E mais adiante: “Não peço, decerto, os estafados retratos do romantismo decadente; pelo contrário, alguma coisa há no realismo que pode ser colhido em proveito da imaginação e da arte. Mas sair de um excesso para cair noutro não é regenerar nada: é tocar o agente da corrupção.” Aí está, nessas rápidas linhas, a noção precisa da maneira como o naturalismo interveio na nova formação estética de Machado de Assis.

Tinha quarenta anos o novelista de Iaiá Garcia quando se desprendeu das últimas cadeias do romantismo. A sua cultura era então das mais sólidas e completas. Embebido na serena beleza antiga, encontrava na arte helênica a perfeita conformidade com as tendências do seu espírito. Era um Luciano de Samósata, nascido e criado em pleno século XIX, no morro do Livramento, no bairro dos marujos e das quitandeiras, dos catraieiros e dos pretos do ganho... Tinha o mesmo espírito fino e cáustico, o mesmo engenho e as mesmas graças, a mesma elegância e a mesma concisão, o mesmo ceticismo sorridente e a mesma tolerância melancólica, o mesmo horror dos sistemas e das hipocrisias, que fizeram do autor dos Diálogos dos mortos a mais completa encarnação do espírito crítico da Decadência. “Lucien nous apparaît”, escreve Renan, “comme un sage égaré dans un monde de fous; il ne hait rien, il rit de tout, excepté de la sérieuse vertu”.

Machado de Assis, com a extrema originalidade que o caracteriza, não sofreu a ação ambiente da sua época; superior ao seu tempo, viveu a vida interior do pensamento, criando com carinho a obra extraordinária, de rara unidade e de sedutora beleza, que é o monumento mais perfeito e mais sólido das nossas letras.

Na formação do seu espírito, a par dos autores gregos, e pelo que se pode inferir dos seus escritos e da tradição recolhida pelos que com ele privaram, tiveram primazia Rabelais e Montaigne, Shakespeare e Cervantes, Stendhal e Mérimée, Swift e Sterne, e, na orientação filosófica, Schopenhauer.

[...]

Delineados por esta forma os elementos que contribuíram para a definitiva formação estética de Machado de Assis, passemos ao exame do primeiro grande livro da sua nova fase artística, as Memórias póstumas de Brás Cubas, em que se fixou a renovação da arte de escrever e da análise psicológica no romance brasileiro.

Fazendo a crítica do Tristram Shandy, de Sterne, notava Paul Stapfer que esse romance (o irmão mais velho das Memórias póstumas de Brás Cubas), reduzido a programa de enredo, é nada. Tristram Shandy é mais difícil de analisar do que o próprio Dom Quixote. Em regra, o romancista escolhe uma fábula dramática, empregando a sua arte em dar à ficção a aparência da realidade. Há um plano estabelecido; há uma ordem lógica nos acontecimentos. Sterne não tem fábula, não tem plano, não tem ordem lógica. Não tem unidade; põe no começo os fatos do fim e no meio os sucessos do começo...

Assim, Machado de Assis. Ele confessava, na primeira edição do romance, que tinha adotado a forma livre de Sterne e de Xavier de Maistre, talvez com algumas rabugens de pessimismo. Mais tarde, na terceira tiragem, acrescentava esta palavra, que vale como documento do seu espírito: “Há na alma deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir dos seus modelos. É taça que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho.” Nestes dois rápidos períodos está a fotografia animada de Machado de Assis...

As Memórias são escritas por Brás Cubas no outro mundo. Começam pelo óbito... O autor explica a transposição: “Que isto de método, sendo, como é, uma coisa indispensável, todavia é melhor tê-lo sem gravata nem suspensórios, mas um pouco à fresca e à solta, como quem não se lhe dá da vizinha fronteira, nem do inspetor de quarteirão...”

Vamos inverter o método do livro, começando pelo princípio, que é o nascimento de Brás Cubas. “Naquele dia (20 de outubro de 1805) a árvore dos Cubas brotou uma graciosa flor. Nasci...” Lavado e enfaixado, Brás foi o herói da casa. Vieram os prognósticos: o tio João, antigo oficial de infantaria, achava-lhe um certo olhar de Bonaparte; o tio Ildefonso, então simples padre, farejava o cônego. Alvoroçou-se a vizinhança. "”Não houve cadeirinha que não trabalhasse; aventou-se muita casaca e muito calção.” Veio o batizado. Brás Cubas aprendeu mais tarde a venerar os padrinhos: “Nhonhô, diga a estes senhores como é que se chama seu padrinho. Meu padrinho? É o excelentíssimo senhor coronel Paulo Vaz Lobo César de Andrade e Sousa Rodrigues de Matos; minha madrinha é a excelentíssima senhora dona Maria Luísa de Macedo Rezende de Sousa Rodrigues de Matos. É muito esperto o seu menino, exclamavam os ouvintes. Muito esperto, concordava meu pai; e os olhos babavam-se-lhe de orgulho, e ele espalmava a mão sobre a minha cabeça, fitava-me longo tempo, namorado, cheio de si.” “Comecei a andar, não sei bem quando, mas antes do tempo. Talvez por apressar a natureza, obrigavam-me cedo a agarrar às cadeiras, pegavam-me da fralda, davam-me carrinhos de pau. Só só, nhonhô, só só, dizia-me a mucama. E eu, atraído pelo chocalho de lata que minha mãe agitava diante de mim, lá ia para a frente, cai aqui, cai acolá; e andava, provavelmente mal, mas andava, e fiquei andando.”

“Cresci; e nisso é que a família não interveio; cresci naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos.” Brás Cubas era indiscreto, traquinas e voluntarioso: “Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, algumas vezes gemendo mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, ‘ai, nhonhô!’ ao que eu retorquia: ‘Cala a boca, besta!’” Este Prudêncio arranjou modo de se desfazer mais tarde das pancadas recebidas, transmitindo-as a outro. Brás Cubas, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Depois de liberto, comprou um escravo e vingou-se: “’Perdão, meu senhor, perdão!’ A cada súplica respondia uma vergalhada nova: ‘Toma, diabo! Toma mais perdão, bêbedo!’ ‘Meu senhor!’ gemia o outro. ‘Cala a boca, besta!’ replicava o vergalho...”

“Era um bom caráter, meu pai; varão digno e leal como poucos. Tinha, é verdade, uns fumos de pacholice; mas quem não é um pouco pachola neste mundo?”

“Meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, sinceramente piedosa, caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em parte, negativa.” No meio doméstico avultava o tio João, “homem de língua solta, vida galante, conversa picaresca”. Não respeitava a adolescência de Brás, nem a austeridade e pureza do cônego. Este não era homem que visse a parte substancial da igreja; via o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepelizes, as circunflexões. “Uma lacuna no ritual excitava-o mais do que uma infração dos mandamentos.” E Brás Cubas resume nestas palavras o meio doméstico em que nasceu e viveu: “Vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domínio do capricho e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor.”

[...]

Seria interminável a palestra desta noite, se me propusesse a contar-vos todas as finuras e sutilezas de observação que enriquecem este livro maravilhoso. A pena de Machado de Assis é um bisturi que anatomiza os sentimentos e as paixões nos seus arcanos mais ocultos e ignorados. Não há farrapo da alma e da consciência que ele não desfibre aos nossos olhos atônitos e pasmados. Às vezes, nunca curta frase, num simples adjetivo, numa breve denominação de capítulo, encontramos a representação exata, precisa, verdadeira, de um caráter ou de um aspecto fugitivo da vida. “Os seus contos e romances”, observa Afrânio Peixoto, “são decifrações da vida e dos casos íntimos da alma ou do coração, sob o véu tenuíssimo do enredo.”

Machado de Assis tem o segredo da auscultação das almas. O seu olhar devassa as consciências, penetra no mais fundo do pensamento, e interpreta todas as emoções e todos os instintos, com o mais estranho poder de decomposição e de análise. Há quem diga que não suporta a leitura dos seus livros, “porque a cada passo se está perdendo o fio da narração...” Não foi para leitores tais que o peregrino artista lavrou as joias do seu escrínio. Stendhal confessava ter escrito um dos seus livros para cem leitores. Machado de Assis, no seu Brás Cubas, contentava-se com dez. “Dez? Talvez cinco.” Os livros de Machado de Assis não são dos que se leem de uma assentada, para prender ou distrair o espírito, ou ainda para “matar o tempo...” É a obra de um pensador, de um moralista, de um filósofo, e, principalmente, de um artista.

[...]

Os livros de Machado de Assis são dos que se devem ler a espaços, quantas vezes interrompendo a leitura, dobrando a página, no silêncio e na solidão, e deixando vaguear a imaginação, à toa, em torno das evocações, dos mistérios, das reminiscências, das sensações, que eles despertam na nossa alma inquieta e ansiosa... Uma frase sua vale muita vez por um sólido tratado de moral. Tomemos ao acaso, neste mesmo Brás Cubas, alguns aforismos de Machado de Assis:

         “Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.”

         “Não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.”

         “A velhice ridícula é porventura a mais triste e derradeira surpresa da natureza humana.”

         “O mundo era estreito para Alexandre; um desvão de telhado é o infinito para as andorinhas.”

         “Suporta-se com paciência a cólica do próximo.”

         “Matamos o tempo; o tempo nos enterra.”

         "Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro."

         “A estima que passa de chapéu na cabeça não diz nada à alma; mas a indiferença que corteja deixa-lhe uma deleitosa impressão.”

         “Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens que de um terceiro andar.”

Vamos, porém, ao termo das Memórias póstumas de Brás Cubas. Também, está por pouco a morte do livro...

Um dia, estando Brás Cubas a passear na sua chácara, pendurou-se-lhe uma ideia no trapézio que tinha no cérebro. Era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade; mas o que mais o interessava era principalmente o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e nas caixinhas do remédio estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Antes que se consumasse o invento, adoeceu de uma pneumonia. Veio vê-lo Virgília, serena e risonha, com o aspecto das vidas imaculadas: “Nenhum olhar suspeito, nenhum gesto que pudesse denunciar nada; uma igualdade de palavra e de espírito, uma dominação sobre si mesma que pareciam e talvez fossem raras. Como tocássemos casualmente nuns amores ilegítimos, meio secretos, meio divulgados, vi-a falar com desdém e um pouco de indignação da mulher de que se tratava, aliás sua amiga. O filho sentia-se satisfeito, ouvindo aquela palavra digna e forte, e eu perguntava a mim mesmo o que diriam de nós os gaviões, se Buffon tivesse nascido gavião. Era o meu delírio que começava.” A pneumonia matou Brás Cubas: “A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra, e lodo, e coisa nenhuma...” “Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais: não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: não tive filhos; não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”

[...]

Tal é, minhas senhoras e meus senhores, num imperfeito resumo, que mal pôde dar-vos uma ideia do gênio de Machado de Assis, o primeiro livro com que o grande prosador abriu a galeria imorredoura da sua segunda fase literária. Certo, tereis percebido que a filosofia de Brás Cubas e a sua visão do mundo, impregnadas de toda a realidade da vida e da natureza, não se ajustam rigorosamente ao caráter e à educação do bacharel de Coimbra, que de seu pai herdou a fatuidade e a pacholice, ao mesmo passo que de sua mãe adquiriu a bondade e a doçura, “fiel compêndio de trivialidade e presunção”, que das concepções filosóficas e morais apenas decorara “as fórmulas, o vocabulário e o esqueleto...”

“Tratei a filosofia”, confessa Brás Cubas, “como tratei o Latim: embolsei três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca e a ornamentação.”

Por outro lado, o meio brasileiro, na época em que decorre a ação do livro, era o de uma nacionalidade indecisa, apenas em começo de formação, que não podia oferecer ao espírito juvenil de Brás Cubas condições superiores de adaptação e de renovação, que lhe apurassem as virtudes nativas e corrigissem os defeitos do seu ânimo.

É que Machado de Assis, identificado com o seu personagem, saturou-o do instinto da sua infinita sensibilidade, transmitiu-lhe a sua maneira de perceber os quadros confusos e tumultuosos da comédia humana, infiltrou-lhe o segredo da sua originalidade dominativa na compreensão das tormentas e das alegrias da alma, ensinando-lhe essa doce piedade que o fez sofrer e sentir com os fracos e os humildes, instilando-lhe o perfume e a sedução de uma forma harmoniosa e acariciadora, em que se resumem todas as graças e todas as elegâncias da nossa língua.

A crítica saberá perdoar a Machado de Assis a contradição de Brás Cubas, que lhe permitiu revelar-nos os tesouros do seu sentimento, oscilando, como aquela pêndula de Schopenhauer, entre a dor e o tédio, nesse livro inimitável, que é a mais alta e a mais nobre expansão estética da nossa cultura literária.

Machado de Assis pôs nos lábios de Brás Cubas esta definição das Memórias:

“Este livro é escrito com pachorra, com a pachorra de um homem já desafrontado da brevidade do século, obra supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo brincalhona, coisa que não edifica nem destrói, não inflama nem regela, e é todavia mais do que passatempo e menos do que apostolado.”

Não, querido Mestre! O teu livro contém uma filosofia sólida e pura, porque foi inspirada no sonho do teu pensamento augusto, debruçado sobre a frivolidade vã das coisas humanas e o fatal espetáculo da tragédia da vida... O teu livro edifica, porque nos dá o supremo consolo da resignação e da dúvida... O teu livro inflama, porque, entre as suas páginas luminosas, vemos passar, resplandecendo e cantando, o triunfo e a glória da nossa terra e da nossa raça!

                                         (Machado de Assis, terceira conferência, 1917.)